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A MORTE ESTÁ MAIS HUMANA

R.I.P.
L.o.l., 4ever, 4give, 2u, 2me, bjs. São infindáveis as abreviaturas que se utilizam diariamente em Chats, redes sociais e outros tipos de "conversa rápida", aliás, actualmente a forma mais comum de comunicar. R.I.P. é aquela que mais se tem lido por todo o lado em reacção á recente morte de Andy Irons, surfista profissional, três vezes campeão do mundo. 32 anos, á espera do seu primeiro filho, supostamente vítima de "Deng", droga, "whatever".

A verdade é que a morte até há bem pouco tempo era tratada como algo "do outro mundo", algo de peso, que impunha um silêncio e respeito que nos fazia arrepiar. Hoje em dia, e tratando-se de figuras públicas a "(i)mediatização" tornou-a estéril e oca, apenas mais um "espectáculo" em que representamos o nosso papel humano com um sempre cordial: "nunca será esquecido", difícil nos tempos que correm (rápido), um: "era uma pessoa fantástica" ou ainda de uma maneira provavelmente mais consonante com a velocidade actual: R.I.P. (Rest in Peace).


Esta semana morreu uma "moça" que trabalhava aqui no café do bairro. Tinha 30 anos. Trazia no ventre um feto com oito meses. O marido encontrou-a já morta no chão de sua casa. Não sei o seu nome. Sei que trazia o Queque ao meu filho juntamente com o o Galão do meu pai.

Era respeitada pelos clientes. O bairro está profundamente constarnecido mas no que penso realmente é naquele marido. No que penso realmente, é na mãe do Andy Irons, na mãe do seu filho, e no que estarão a fazer neste momento. Cocerteza não estão a ver o "I surf because..."

DESCANSEM EM PAZ!

Comments for this entry

Anónimo

e entao?!

qual é o objectivo deste texto?

BALIN

Este texto é exactamente uma pequena reflexão/ reacção aos milhões de "pessoas sem rosto" (o seu caso) que diariamente deambulam pelo mundo da Internet tirando aqui e ali, da sacola, frases feitas e ideias inócuas só para "Inglês ver". Ou seja, a imagem da sociedade actual.

Anónimo

Pois bem,
Neste caso, a morte, só diz alguma coisa a quem a sente, e só é sentida quando alguem que nos dizia algo ou que nos marcou de certa forma, morre.
Eu vi, vejo e continuo a ver o "i surf because" do Andy Irons, vejo filmes de surf diariamente assim como de futebol e desportes de combate, vejo-os porque tenho idolos em cada um deles e na eventualidade de morrerrem, como nao tenho, nem tive oportunidade de contactar com eles, lembro.me das coisas boas que fizeram e viveram.

Usando o exemplo do texto, "Esta semana morreu um "moça" que trabalhava aqui no café do bairro", como nao conhecia a moça antes, como nao a idolatrava, nao sinto tanto a sua falta.

Como eu existem muitos mais que idolatram Andy Irons e que a unica forma de o "viverem" é vendo o disponivel online, nao para "ingles ver" mas simplesmente para sentirem aquela força e aquela vontade que aqule "Homem" tinha.

Por estas razoes acho que o texto em cima foi mal conseguido.

(Autor do 1º comentário)

David Marreiros

BALIN

Obrigado David pelo teu comentário, agora finalmente com rosto.

Obviamente que não vou ao contrário de ti, por em causa a tua perspectiva da morte de uma figura pública, como o Andy irons, mas caso não tenhas percebido, passo a explicar o texto.

No 1º parágrafo menciono a morte do Andy Irons, ou seja, a mediatização da morte, apresento assim o que me levou a pensar neste assunto. "Morte pública" e "morte privada".

No 2º parágrafo falo da maneira que, na minha perspectiva a morte é a par de muitas outras coisas tratada de forma leviana e banal.

No 3º parágrafo apresento um exemplo de "morte privada" sem direito a R.I.P.'s e afins, ou seja alguém como tu e eu de carne e osso.

Conclusão. O meu texto é sobre a morte e não sobre pessoas que morrem. É sobre aquilo que fazemos e dizemos e não sobre o que sentimos.

Como já deves ter reparado eu trabalho na área da imagem. O meu trabalho é diariamente criar "marcas" que inventam os Andy Iron's deste mundo para que pessoas como tu os possam como afirmas, idolatrar.

A tua resposta a este pequeno texto é a sua razão de existir. Um bem haja.

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